No ano de celebração dos 90 anos de Sérgio Ricardo, Zeh Gustavo, parceiro temporão de Sérgio no choro ‘Alma nua’, lançado em 2021 pela cantora baiana Kell Santos, faz uma releitura do famoso samba “Beto bom de bola”, cuja execução tanto gerou polêmica no Festival da Canção de 1967. A versão já está disponível em todas as plataformas digitais.
Recebido no palco com ensurdecedoras vaias e acusações de alienação, pela abordagem da temática do futebol, muito embora cantasse a complexidade humana e social do apogeu e derrocada de Garrincha, Sérgio, na ocasião, foi afetado e mesmo interrompido pelas manifestações da torcida, que não entendeu nem mesmo o arranjo tão afeito à levada mais autêntica do samba de escola, fato destacado na gravação de Zeh.
Agora, não coincidentemente no que é o primeiro single de Zeh Gustavo como cantor, o samba segue até o fim, o violão fica inteiro e uma injusta aura de falsa maldição dá voz, de vez, à anunciação de que nosso recado tem de ser dado, enquanto durar a nossa, sempre tão curta, história.
Até hoje pouco compreendida, Zeh relê essa música a enaltece a voz ancestral Sérgio Ricardo que emana, sem deixar de considerar que o gesto do autor afirmava a índole de um artista inteiro, em tempo integral. De quebra, em tempos de Copa do Mundo: o samba homenageia e problematiza, poeticamente, a trajetória de Garrincha, nosso Anjo das Pernas Tortas, num arranjo que valoriza a cadência e a divisão sincopada tão bem construídas por Sérgio Ricardo. Beto bom de bola é isto: drible, ginga; e, ao mesmo tempo, manifesto, metáfora da história conturbada de um herói em forma de canção.